Thursday, March 03, 2005

Não Matarás: Crítica e Impressão

Não Matarás, título advindo da esdrúxula tradução do exato: "Uma pequena história sobre um assassinato", é, sem dúvidas, um dos mais nuviosos filmes de Kieslowski. Sua abertura impressiona-nos através de uma fotografia repleta de cores obscuras, e um panorama melancólico.
Em seu decorrer, seguem-se díalogos que poder-se-iam qualificar de "quase incompletos", levando-nos a adentrar em uma Polônia erma, em que seus habitantes estariam imersos em solidão.
Uma das principais caracteristicas do filme é a apresentação do espaço e do tempo através de movimentos elípticos - estilo narrativo também mostrado no filme Amores Brutos, por exemplo- a vida do motorista de táxi, do jovem, e do advogado colocadas não em paralelo, mas em posições perpendiculares, encontrando-se em um único ponto ou razão.
Os encontros dão-se de maneira ivoluntaria, a fim de enfatizar a impotência dos seres diante das consequencias a que todo um sistema nos sobrepuja, e não apenas ante aos acontecimentos.
O filme compõe através de exposições não tão subjetivas, o questionamento quase existencialista acerca da pena de morte. Kieslowski apresenta uma tentativa feliz de tornar a narrativa de estilo descritivo não psicológico, ou seja, não se trata de um enredo de caráter onisciente.
É natural que o abatimento do filme adentre em nós deixando uma impressão de ordem plangente, e que em grande parte das vezes encaminhamos a discussão sobre as idéias apresentadas por um âmbito de essência individual. ; contudo, é preciso perceber-se a importância do contexto comum, das leis e do Estado que unem os três personagens.
A atitude crítica de Kieslowski revela-se através do fato de não conhecermos as motivações - de modo objetivo- que teriam levado o rapaz a cometer o crime; entretanto, é exposto de forma clara o "pretexto" pelo qual a lei está fundamentada: eis o questionamento sobre as estruturas morais sociais.
Do alto de uma ponte, sobre uma estrada, o jovem rola uma pedra vagarosamente, e esta cai sobre alguns dos carros que passam em alta velocidade: a quem o acaso teria ferido? Injustamente? O rapaz é fruto de uma composição ideológica cencurável, ou está mergulhado em um estado único de iniquidade? Estas são conclusões, peculiares, que cabem ao espectador.

1 Comments:

Blogger celialu said...

Gostei do modo profundo com que vc comentou este filme.Admiro escrever assim tão longamente, sou meio sucinta, na maioria das vezes. Saudações literárias!

March 4, 2005 at 4:06 PM  

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