Sunday, November 14, 2004

Contra-senso

Contra-senso

Vem a armada abstrusa do mal falando tão claramente, sem compreender por quê não foi ainda repelida pela ira dos anjos.
Vem o suicida esquivando-se faltoso, sem compreender quem lhe roubou sua alegria.
Vem a namorada da patuscada triste, sem compreender como se tornara erma.
Vem a especiaria barateada pelo tempo, sem compreender a dialética dos valores.
Vem a rosa-dos-ventos entre as rotas do perdido, sem compreender as direções ou o sentido.
Vem o rico réu libertado pelo injusto, sem compreender por qual vereda caminha a inteireza.
Vem a inópia pernoitar sob a fartura, sem compreender a persistência sem razão.
Vem o sonho bufão acariciando a poesia, sem compreender a insensatez da lábil vida.
Vem o discernimento absoluto e sarcástico, sem compreender por quê aponta o conformismo.
Vem a languidez da fome submetida ao destino, sem compreender por onde cursam os culpados.
Vem a acusação censurando o corrupto, sem compreender o quê deveras adultera.
Vem a utopia admoestando o Estado, sem compreender como se modifica o indumento.
Vem a esperança sob o escárnio do fundamento, sem compreender a hemeroteca que se forma.
Vem a consonância com os impérvios abortando o futuro, sem compreender por quê a morte nasce agora de seu ventre.