Wednesday, October 28, 2009

É possível culpar o termômetro pela febre?

Aproximadamente às 23h de ontem, o professor Chateano interpelou à sala:

Os direitos humanos estabelecem que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. No entanto, não é isso o que acontece. Qual a solução?

A sala toda permaneceu em silêncio. Ele insistiu:

Mocinha dos cabelos enrolados, o que você acha? Qual é a solução?

Demorei para acreditar que a mocinha dos cabelos cacheados fosse eu. Demorei para acreditar que o professor estivesse fazendo aquela pergunta tão pueril. Olhei no fundo dos olhos dele e respondi com sinceridade:

Ora, professor! Não sei! Mas se o senhor souber, me avise, pois no próximo ano esperarei vê-lo recebendo o prêmio Nobel depois de Obama!

A sala gargalhou. O professor ficou constrangido. Tentei remediar:

O senhor já leu "O Paradoxo dos Direitos Humanos" do Robert Kurtz? Não. E "O Mal-Estar na Civilização"?
Poxa, talvez eles respondam o que eu penso sobre Direitos Humanos. A sala Vip só faz sentido, porque existe a sala de espera comum. Será mesmo que o ser humano está disposto a ser igual? Será? O senhor, particularmente, prefere a pista ou o camarote? Ser cliente Itaú Personalité ou Bradesco nada Gold? Faz sentido pensarmos em Direitos Humanos em uma sociedade tão desigual?

A aula de Questões Etnico-Raciais foi encerrada.

Será que, nesse caso, romper com o desejo de sermos iguais nos levará ao caminho óctuplo? Será que o segredo é não pensar, não agir e insinuar que cada um é responsável pelo próprio caminho como se não interferíssemos nos caminhos uns dos outros o tempo todo? É possível culpar o indivíduo pelo Estado ou o Estado pelo indivíduo?
O que me preocupa mesmo é o estado... o estado de alma dos indivíduos e de mim nessa teia social, porque não sei mais se estou do lado da aranha ou da mariposa.