Sunday, August 23, 2009

O cara certo

Quando pequena, acreditava que príncipes encantados existissem.
Talvez essa noção fosse fruto do que ensinam os contos de fada, as mães e os filmes... Ainda que eu não more aprisionada em uma torre, fisicamente, pensava que a felicidade chegaria por meio de alguém que me libertasse dessa mesmice que a vida parece às vezes.
Conforme o tempo vai passando, a gente descobre que há muitas pessoas legais no mundo. E, de repente, surge uma que adora vídeo-games e não lê Machado de Assis, mas mesmo assim é legal. Quando lhe convidou para ir ao cinema pela primeira vez, no lugar de uma comédia romântica, assistiram a um tosco terror. Mesmo assim, saíram no fim de semana seguinte.
Enquanto você está preocupada com o futuro das crianças que não têm acesso à escola, ele está pensando em precificação de ativos e, mesmo assim, você o acha inteligente.
Você adora turma da Mônica, e ele adora mangá... mas continua sendo interessante.
Você sugere um jantar à luz de velas, e ele o pior bar de rock da cidade, mas ele, do mesmo modo, continua "fofinho".
Daí a gente se pergunta se faz sentido esperar pela "alma gêmea" ou se o melhor da vida está nas diferenças do que não é gêmeo ou sequer parecido. Vai ver eu não estava certa sobre a pessoa ideal ou o príncipe encantado, porque todos nós - humanos - temos um pouco de anfíbio no âmago, algo que passa longe da nobreza de alma... Mas eu estava certa sobre a felicidade que vem e nos liberta da mesmice. Que nos faz achar a noite divertida, mesmo quando se atravessa a cidade e não se consegue comprar o ingresso desejado... Que nos faz achar a cama o melhor lugar do mundo e o seu namorado o cara mais bonito e engraçado (mesmo que ele ria de você não conseguir tirar o carro do lugar).
A vida é cheia de surpresas agradáveis...

Saturday, August 01, 2009

Madras

Que venham as gentes e passem as coisas, porque coisas e gentes foram feitas para passar... e nós passamos. E nós sorrimos, e nós cantamos, e nós sentimos, e nos abraçamos.
Na vida permanece a poesia e a beleza que são próprias a cada um. Nela transformamos as relações por perspectivas estilisticas e pessoais, por meio de veios recessivos, e vamos criando novas realidades, novas personalidades, semeando novos sentimentos.
Na Madras, pude tornar mais sólidos os alicerces da minha construção profissional, espiritual e emocional... que certamente carregará em sua arquitetura o melhor de cada um que participou dessa breve passagem.
Infelizmente, é mais fácil se desfazer de um amigo que o obter. Vamos nos aderindo uns aos outros, num pacto de necessidade e esquecimento, como testemunhas de momentos que não regressarão.
Muitos marcam o dia, o mês, o ano de instantes felizes. Outros anotam nomes e telefones, na primeira página de cadernos e livros. Como livros de bibliotecas públicas, sairei com o carimbo dessa convivência e a marca de tantas interpretações e leituras. Acontece que, no fim, o tamanho da biblioteca não importa. Nós, leitores, espionamos a biblioteca dos amigos, nem que seja só por distração. Às vezes para descobrir o livro que queríamos ler e não temos, outras para saber se ele cabe em nossa estante... Chega o momento em que os volumes, tantos volumes, cruzam uma fronteira invisível, e vão se impondo às nossas lembranças e aos nossos sentimentos por seus números, seus enredos... Alguns dos meus colegas de trabalho me premearam com grandes romances. Outros com versos breves. Outros ainda permaneceram como os livros instigantes das vitrines... É preciso não arruinar a edição valiosa que se tornou a lembrança desses dias, ao lado de pessoas como a Aline, a Bianca, o Danilo e o Rodrigo. Embora muitas vezes palavras tenham permanecido à margem e tenha faltado alguma elegância e revisão, confesso-lhes que é estranho refletir sobre a saudade... Um leitor é um viajante a passar por uma paisagem construída. E a paisagem pode ser infinita. Sempre haverá o vento, o galho, a pedra, e a nostalgia pelo vento, pelo galho e pela pedra. Foi feliz poder percorrer, em poucas horas diárias, momentos que agora são capazes de transcender o tempo, porque uma vida inteira não é suficiente para percorrer tantas paisagens maravilhosas, de leituras e amizades como vocês....

Muito obrigada por tudo: os almoços, as conversas, as risadas, as histórias, a torcida...