Friday, January 28, 2005

Verde e Amarelo

Olhai para o que fizeram com tua riqueza,
Hoje o samba saiu e não voltou,
Vejo apenas entrar pela porta a fugacidade da beleza,
Daqueles que te submetem a ser a pátria mãe do filho cujo sonho de justiça voou...

Tua bandeira não nos trás a ordem e o progresso,
A política é o teu folclore,
Brincais de ser nação soberana,
E o teu constante carnaval, (terra adorada?), a muitos engana.

E no forte grito de vossa independência,
Ergueu-se a voz que falou: democracia!
E se hoje em teus saberes ainda há arte,
Vossa república é mais grandiosa que Shakespeare.

Venderam tua língua brasileira por alguns dólares,
Comerciaram, tua cultura, a dignidade que vivia.
Doaram, tu oh povo, ao império soberano,
Enquanto, conformado, vós dormias...

Os teus movimentos hoje são sandices,
Já não vejo a união pelas ruas,
Já não ouço a tua voz,
Já não percebo o combate sendo travado,
O coração, calado, já não bate por vós, (pátria amada?)

Sinto saudades do calor do sorriso de uma criança,
Sinto saudades do ardor da luta, e no olhar a esperança,
Sinto saudades do sabor da cerveja e a beleza da dança,
Sinto saudades da vontade de um povo que trabalha por equidade, e não descansa...

Onde estão os teus revolucionários?Onde estão os exilados por amor a ti?

A tua aurora amanhece azul e vermelha,
Colorindo a bandeira que já não é verde e amarela,
E se em tuas estrelas há agora menos brilho,
Saibas não foi falta de amor,
Mas falta de brio!

Tuesday, January 25, 2005

Eis o que há em mim

Há apenas um mar de tristeza,
Há uma brisa tênue e fastidiosa,
Há um vácuo sagaz que importuna-me,
Há uma voz silenciosa...
Eis o que há em mim.

Há um odor peculiar,
Há uma lembrança usurpada,
Há uma vida errante,
Uma sobrevivência mentirosa...
Eis o que há em mim.

Há uma solidão embriagada,
Há um olhar que a morte oculta,
Há palavras e opróbrios,
Um arrepio sombrio...
Eis o que há em mim.

Há uma orgia de receios,
Há um sorriso irascível,
Há um sentido patético,
Um pensamento lendário...
Eis o que há em mim.

Há uma euforia que argumenta,
Há uma alegria inexistente,
Há um olhar que a piedade clama,
Uma mágoa transgredida pela dor...
Eis o que há em mim.

Há um cansaço do ócio,
Há filosofias inúteis,
Há uma busca monótona,
O desprezo que sinto...
Eis o que há em mim.

Há um medo delinquente,
Há um prazer sarcástico,
Há uma pratica infeliz,
O desejo não saciado...
Eis o que há em mim.

Há uma propensão ao pecado,
Há o tempo que carrega o fardo,
Há uma verossímil ilusão.
Eis o que há em mim:
O amor que causa enfado.
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" (...) São tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora, mas ainda sei me virar..."
resta-me aprender a fazer isso sozinha...
Dias de grande ausência se aproximam. Não me enganarei. Não mais.

Sunday, January 23, 2005

sonambulismo

Acho linda a madrugada da cidade,
O barulho do carro se expandindo no silêncio,
A luz da insônia acendendo na escuridão da fadiga,
Dos cansados pelo dia
Que amanheceu para todos,
Mas trouxe luz para alguns.




- Pensamentos perdidos no papel, por volta das 2:43 AM.

* Para quem tem insônia, 200 mil livros, filmes e CD's. Para quem tem sono, um café*

__ mudando de assunto__
... eu queria um pão de queijo...

Monday, January 10, 2005

Aborto

Dói
Dói uma dor irresoluta,
Uma dor fenecida,
Céptica;
Dói uma dor angustiante,
Pungente,
Endógena.
Dói
Dói uma dor de parto
Uma dor de fardo
Uma dor seva.
Dói uma dor satírica,
Uma dor que abriga
Cicerones vivos
Que não nascerão.
Dói
Dói uma dor sentida,
e
Incompreendida
Pelos homens.
Dói a dor
Que corrói a existência
E abriga a partida.
Dói uma dor de desacerto
Que aperta nosso peito
Num antônimo de abraço.
Dói o vermelho que esvai
Pela orla de nossos vestidos
Corrompendo nossos sonhos
Enchendo-nos de dolo.
O céu é logo?
O Orco sim,
Porque assim dói
Dói a dor de quem não crê no pecado
E transgride.
Dói a maternidade adulterada
Dói a luz duvidosa
Do trem com o qual colidiremos
Ao fim do túnel.
A vida inerte,
A paz do nunca,
A intensidade do mais.
Dói
Dói funda e difusa
Uma dor de descaso.
Dói a dor das mãos
que seguram-se sozinhas,
Dói a dor da sobrevivência
Qual?
Breve.
Dói a dor da escuridão perdida,
Do adeus a quem não veio,
Embora fosse ansiado todo tempo,
Dói a dor do desafeto,
De repente,
O feto sou eu,
Toda eu,
Entretanto, não cresço.
Diante das testemunhas oculares:
Um crime.
Dói,
Dói porque usurpa-se liberdade
De outras vindas,
Inócuas.
Dói porque outras escolhas não cabem,
Não sabem,
Não mentem,
Mas sentem,
A dor que dói
Tudo que há de mais dolente,
e
Terrível.
Dói a dor do estar
No que se desapoia
Dói a dor da morte,
E da saída,
Sem saída,
Sem começo.
Dói a dor da meia- luz
Da meia verdade
Da meia biografia
Adiada.
Dói,
Porque a dor agora,
É tudo o que a aurora do futuro tem a nos dizer.



Sobre um crime e o castigo:
"Eu grávida, tal qual Macabéa: o futuro coube em meu ventre; entretanto, o amanhã anuncia a desordem. Certamente não há nada de mais temível e horrível a acontecer: o aborto dos sonhos.
Peço-vos, não me condenem, seres impérvios. Ao final do arco íris, não se encontra ouro, ou fortuna, há só um descolorido, descontente, demente, e umbrífero... Há a Sombra que enlaça-me no abandono de mim em qualquer lugar".

Meus versos: um esconderijo de mim, em mim.

Dúvida eu
Eu dúvida

Só duvida
Dúvida só
Só eu
Eu só

Dúvida
Eu
Mais
Um
Em
Mim
Nós
Sós
Dois.
Dois um
Um dois
três
?

Meus versos: um esconderijo de mim, em mim.

Evadir-se : ser poeta.

Fuga
Palavra
Poema
Falante
Foge
Potente
Parente
Fascinante
Faca
Foice
Pedra
Pão
Finco
Fácil
Pai
Patrão
Fera
Fere
Pela
Pedra
Faca
Finco
Fascinante
Fuga
Parente
Pai
Falante
Poeta
Fechado
Portão
Foi

?


Sunday, January 09, 2005

Livros, livros, livros...

A obra em recomendação, hoje, é "As cidades invisíveis" de Italo Calvino.
Um romance em que a ficção se alimenta da imaginação do leitor.
Nos proporciona uma reflexão não superficial de nossa identidade no mundo.
Marco Polo precisa descrever para o conquistador Kublai Khan pormenores de seu intinerário.
"Jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve"- afirma o personagem.
Porém, nos confundimos, todos, nessa leitura admiravel, e nos perdemos entre as cidades e a capacidade extraordinaria de descrição, do autor. Adentramos um mundo fantástico, e degustamos os diálogos tenros, que poderiam, sem dúvida, tornar-se o pontapé inicial de inúmeras discussões filosóficas e literárias.
As cidades imaginárias têm nomes de mulheres. "Pólis" em desconhecimento de sua história.
Enfim, é um livro que nos estimula: uma poesia inteira feita prosa.
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--- mudando de assunto---

Medo. Saio devagar, imperceptível. A luz está acesa em toda parte, mas a Sombra, perfeita, é sobreposta em meus olhos, e cega o que eu já não podia ver.
E se o mundo caminha para o caos? E se fossemos, nós mesmos, a balbúrdia?
Era um sonho? Trocado?
Todas as palavras me invadiam, e ainda assim eu era vazia. Um ramalhete de flores desbotadas, e em um único beijo, tudo desbotara: a vida, a rua, e o sol.
Nossos dias: filme. Vão girando, girando, girando.
Julgo-me amada, danço ao som dos bandolins, dos violões, e também das flautas: doces.
De repente, sou todas as outras de sua vida.

Saturday, January 08, 2005

de repente,

odeio rosas.

Tuesday, January 04, 2005

campanha

NÃO Ser sujeito. NÃO Ser alguém. NÃO Ser esperado. NÃO Ser politicamente correto. NÃO ser ético. NÃO Ser modal. NÃO Ser adequado. NÃO Ser deveras seguidor dos valores judaico-cristãos. NÃO Ser patético. NÃO Ser moral. NÃO Ser piegas. NÃO Ser equilibrado. NÃO Ser da tribo. NÃO Ser burguês. NÃO Ser familiar. NÃO Ser proprietário. NÃO Ser “vestibularmente” inteligente. NÃO Ser humano. NÃO Ser. Simplesmente porque não necessitamos. Ah, essa nossa subordinação aos resquícios da cultura grega... Entre esses entulhos todos, restou-nos uma obsessão pelo verbo “ser”. Então pensei, conseguiria eu não dize-lo em todo um dia, ou ao menos em todo um texto? Por instantes esquecer de toda essa subjetividade de “ser”, e apenas estar, apenas pensar, apenas correr, encontrar? Não quero ser, não hoje. Esse verbo persegue, torna endógeno demais o que deveria estar a mostra de todos. Por quê não ter? Por quê não fazer? Ser não, não quero ser. Esqueçam o verbo ser. Nada é, não hoje. Não às metáforas. Não às definições. O quê me faz pensar que aquilo é isto, ou isto é aquilo? Quero um não a essa seqüência de sujeito, verbo, predicado, objeto. A seqüência decorrente do verbo ser, decorrente do que é. A lógica que nos leva em colisão ao caos, ainda que sendo lógica. Se por instantes não fossemos simplesmente, o que “seriamos”? Estaríamos? Concluiríamos? Mudaríamos? Se não fossemos, mudaríamos sim. Transformaríamos essa nossa velha mania de querer ser deveras estável, deveras aceito por aquilo que nem mesmo concordamos. Sistema mentecapto. Libertemo-nos da precisão do ser.