Abriu
a janela e sentiu o vento batendo em seu rosto. Observou o edifício que
interrompia o horizonte. As janelas estavam quase todas fechadas, talvez para
espantar o frio, que não era tão forte que provocasse um tremor em seu corpo
como o que sentia na alma. Tateava entre equilíbrio e o desequilíbrio. Olhou
para baixo e decidiu fechar a vidraça. Melhor não olhar mais. Permaneceria inerte,
completamente imóvel, para não desmoronar.
Em
meio à sensação gélida que lhe sobreveio pela curiosidade sobre a morte, percebeu
subitamente que estava atrasado. Para dormir? Sim, para dormir. Já era a
primeira hora do dia seguinte e em pouco tempo precisaria acordar para mais um
dia de trabalho.
Enquanto
caminhava novamente para a cama que o aguardava, talvez mais ansiosa que ele, pensou
na solitária luz acesa do edifício que era um óbice no horizonte daquela cidade.
O que ela fazia luzindo? A companhia daquela lâmpada estaria tão submergida
quanto ele?
Gostava
de imaginar a rotina dos que não notavam sua existência. Considerava que o dia
a dia dessas pessoas seria sempre, inevitavelmente, mais alegre e atraente que
o seu. Possuíam certamente uma rotina com
mais expectativas. Se o ser estava acordado, tinha realmente um motivo muito
mais nobre que a sua insônia triste: um filme encantador, um livro absorvente,
uma conversa prazerosa.
Depois
da constatação óbvia, tentou se lembrar da última vez em que esteve contente.
Adormeceu antes de superar seu esquecimento. Acordou antes de aliviar o seu
cansaço.