Wednesday, January 21, 2009

Estagiário tem que ser biscoitinho fino, mas não basta.

Raiva é um dos sentimentos mais estranhos que se pode ter. Ultimamente, tenho sentido muita.
Irritação contextualizada (ou não) e pronto: rosto vermelho, boca seca e uma vontade de gritar, sair correndo, falar aquela expressão esdrúxula.

O fato é que há três classes de pessoas no mundo: as irritadas, as irritantes e as burras. Descobri, há pouco tempo, que faço parte do singelo grupo das irascíveis.

A vida de todos nós está dividida em setores. Acadêmico, pessoal, profissional. Quando tratamos do último, isto é, das relações de trabalho, a coisa aperta: fica difícil distinguir quem é quem e a qual grupo pertence. Nem sempre é fácil determinar se o cara é irritante ou se é burro mesmo.

Agora, se você é o irritado, meu caro, certamente já foi estagiário e já teve uma semana daquelas, em que engole tantos sapos, rãs, lagartixas, que ao sentir o despontar do fim de semana, às vezes tem vontade de entrar na sala do seu diretor, colocar o dedo na garganta e vomitar na mesa dele.
Mas ele está em Paris. É comum lembrar disso com mais frequência quando se é apenas o estagiário.

Então o telefone toca. Você responde. Toca de novo. Você responde again (pois no mundo corporativo, acha-se very stylish usar termos de qualquer idioma que não seja o próprio). Ao tocar pela terceira vez, você até teria dito: qual parte é preciso desenhar?

Era só um chato, e para o chato não existe perdão. Mas estagiário tem que ser biscoitinho fino. Em tom de voz baixo e suave fala: claro que posso ajudar, precisa da mesma informação? Verifico em um instante.

Isso é o que chamam de "ser profissional".

Todavia, nada é bom o bastante quando se é estagiário. E se alguma coisa der errada, por favor, não vá perder tempo procurando culpados. Aponte para o estagiário mais próximo de você. Porque para ser um estagiário bem sucedido (se é que se pode ser bem sucedido mesmo sendo estagiário), além de ser biscoitinho fino, é preciso navergar em mares nunca antes navegados, e também:

-Ter a paciência de Jó;

-Já saber de tudo;

-Responder imediatamente;

-Estar capacitado para substituir qualquer profissional: bombeiro, coordenador de TI, médico, garçom, atendente, telefonista, psicólogo, astrólogo, pai de santo...(deve ser o que chamam de proatividade).

Mas, acima de tudo, é preciso trabalhar como se você tivesse 30 anos de experiência no mercado, ainda que não tenha sequer 25 de existência.